domingo, 26 de junho de 2011

ALÉM DOS PROCESSOS

Ando pensando muito no porquê de cursar Direito, por vezes, chego a conclusão de ser essa minha vocação. Não tendo, portanto, outra melhor opção além dessa.
Sinto-me feliz aprendendo Direito, estudando Direito e, agora, vivendo o Direito.
Há exatos dois meses comecei a estagiar no fórum, na 1° Vara da Familia, e é ai que estou presenciando a relação do Direito com a sociedade.
Na sala de aula é muito bom ouvir, nos livros é muito bom ler, mas na realidade é muito dificil entender.
Averiguação de paternidade, retificação de paternidade, divórcio, permissão judicial para casamento de menores, prisão por pensão alimenticia, cartas e mais cartas de intimação.
Pessoas simples, desinformadas, ignorantes sobre seus direitos e, mais ainda, sobre seus deveres.
Cansa ouvir e, digo mais, dói ouvir: ''- Não coloco meu nome ai nesse papel sem o exame de DNA'' , concordo, ''Tudo bem senhor, são trezento reais. Assine aqui, caso queira fazer.''. Indignaçao do requerente, ''- O que? Trezento reais?'' . Penso, ninguém mandou fazer filho com várias! Agora quem sofre é a criança, sem nome do pai ali no registro. Nessas horas sinto raiva, indignaçao, desprezo. Mas quem sou eu pra julgar tanto assim? Não sou juiz ali naquela Vara, não sou juiz em lugar algum, exceto nos meus paradigmas já tão anacronizados.
Chega uma hora que ler os processos e não sentir mais nada nos faz sentir um tanto frivolos, mas, imagine só, se em cada processo que lermos pensarmos nas vidas existentes por trás deles?
Dias desse, chegou uma senhora, já muito sofrida pelo tempo, pedindo para que eu lhe entregasse seu processo. Calmamente procurei, calmamente lhe entreguei, já consciente de que ela, certamente, não entenderia bulhufas do que estava escrito ali. Timidamente ela me chama e pergunta ''Moça, a senhora poderia me explicar o que é isso aqui?'' . Eu, esforçada estudande de Direito e do Direito, aluna aplicada em sala de aula, porém, uma ignorante na aplicação daquilo de que sei na vida real. Não só olho como também estudo o processo e chego a conclusão de que o pedido da guarda de seu neto lhe foi negado pelo juiz. Ela começa a chorar e me contar que a mãe da criança usa tóxicos, bebe demais, não acompanha a vida escolar do menor, ou seja, não tem condições alguma de ficar com a guarda. Fico sem saber o que dizer, o que fazer. Só me resta aconselhar de que entre com recurso, procure outro advogado. Ela sai, mas fica em mim. Sua história não sai da minha cabeça. Imagino a criança, coitadinha, sofrendo nas mãos de sua mãe e a avó triste pensando na criança.
Entender o processo é fácil, dificil está sendo entender as vidas além dos processos.

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